quinta-feira, 23 de julho de 2009

Mononormatividade

Isto é um extracto, adaptado, de algo que escrevi especificamente para o Polyportugal, e para o Our Laundry List (meu blog pessoal sobre principalmente poliamor).

Uma palavra muito importante nas lides activistas LGBT (ou quaisquer outras pelos direitos humanos, na verdade) é mononormatividade. (a palavra foi inventada primeiro como slang, e pegou como "exagero" ou superlativo de "normativo").

Descreve, a maioria dos mecanismos que fazem com que nos comportemos de maneira pré formatada... é a pressão social que nos diz que ser gay ou não-monogâmico é errado, é a pressão que faz com que não vamos trabalhar de calções, mesmo que isso não afecte a nossa competência, ou não dizer ao chefe que não somos do Benfica, é tudo o que nos impele para um sentimento de minoria que se livraria de sarilhos se passasse a ser maioria, ou que, no caso de não impelir, nos tornam eventualmente alvos de discriminação (não se pode mudar a raça, a nacionalidade, a idade, por exemplo..).

Reparem que, atabalhoada como poderá ser a minha explicação, mononormatividade não é a mesma coisa que discriminação, embora mononormatividade quase sempre seja discriminatória..

Mononormatividade é um tema muito vasto e hoje quero deixar-vos apenas os acepipes como entrada, e mais para a frente e conforme o vosso interesse podemos pegar ou aprofundar outros aspectos.. Os exemplos que vos deixo são mais ou menos poly-relevantes pois é a realidade onde levo mais porrada e que conheço melhor. Deixo vos o trabalho de casa de procurar exemplos noutros campos... Mas os exemplos acima, em que um trabalhador não revela a sua orientação sexual minoritária no trabalho (de todo, ou antes de mostrar que é mais competente que os outros), ou que um estrangeiro nem tenta procurar apartamentos em certos bairros mais privilegiados, ou que um vegetariano já nem vai a certos jantares para não ouvir certos comentários, ou que uma mulher já nem tenta explicar porque certas anedotas são ofensivas, são um bom principio.

Indo então para os direitos sexuais, temas caros a este blog e a mim, gostava de vos chamar a atenção para um dado interessante e que é um bom ponto de partida, é que mesmo pessoas que não contestem a monogamia ou o modelo heterossexual, mas que não encaixam no modelo do casal monogâmico, são encaradas com desconfiança. As constituições dos países ocidentais, teem, desde há relativamente pouco tempo (80 anos), explicitamente passado a mensagem que a base da sociedade é a família e não mais o individuo (Comparem as primeiras constituições europeias de há +180 anos com as de agora, e vejam toda a celeuma à volta dos casamentos para pares do mesmo género, explicados como direitos, mas que no fundo promovem privilégios aos indivíduos que escolhem casarem-se em detrimento ao individuo que o não faz).


Pessoas que vivem sozinhas, e que até sejam felizes (Quirky Alone), são vistas como doentes ou uma excepção à utopia da felicidade universal, ou mesmo um perigo para a sociedade. Mecanismos como o swing ou a neo-monogamia, com tudo o que teem de libertário, começam a ser bem vistos apenas desde que não haja envolvimento emocional e o casalinho original se mantenha intacto. Criticas, construtivas ou não, feitas ao casamento tal como ele é, são anátema para muitos políticos (por ex: Deputada critica casamento) que preferem nem se meter nisso. Evidência histórica que o casamento já foi uma instituição diferente, ou que houve outros contractos sociais paralelos (ver Affrérements ou casamentos entre homens na península ibérica até ao séc. XI) com diferentes papeis, e diferentes expectativas, é sistematicamente esquecido... Algo que cheire a "promiscuidade" é sempre o culpado dos tremores de terra, epidemias, e um par de botas, em vez de se procurar as verdadeiras causas e actuar sobre elas... Mas pular a cerca nunca será uma causa de tremores de terra, porque não conta como promiscuidade, não ameaça o par original..


Entendo que ninguém, nem Estado nem vizinhança, tem o direito ou sequer o capricho de interferir no que dois (ou três, ou vinte) adultos consentâneo fazem uns com os outros, por uma noite ou por uma vida inteira. Isto é válido no que diz respeito à monogamia, à orientação ou desorientação sexual ou de género ou mesmo ao cheiro do aftershave (*). isto são discriminações mononormativas. Por outro lado, é contra os pilares de uma sociedade que se diz livre, inclusiva e diversa, que tal interferência, por Estado ou vizinhança ou empregador aconteça.


Ficou claro?


é por isso que aqui estamos..


obrigada por lerem, e agradeço os vossos comentários e perguntas.


(*) convido para um mojito quem me disser quem é que foi o artista que foi discriminado, alegadamente, por causa do aftershave que usava.

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