quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

trabalho sexual é trabalho!

ueer Bondage Performance @ Hurenball




A associação Hydra, fundada em 1980 por algumas mulheres corajosas, completa 30 anos. Para quem não sabe, a Associação Hydra
bate-se pelos direitos e interesses dxs trabalhadorxs sexuais e é baseada em Berlim. Quem quiser saber mais em português, clique aqui

E sim, completa 30 anos. Razão mais que suficiente para festejar, com o Hurenball, o "Baile das Putas". Festejemos então todos os que achamos que devemos festejar também.
Sábado, 29 deJaneiro de 2011, 21h, KitKatClub, em Berlim

Um exemplo a seguir!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Artigo adaptado do texto completo no "Queer, palavra viva, no Our Laundry List"

A palavra
queer apareceu como sinónimo de bicha, de gajo que não se encaixava na norma, no tempo em que ser bicha dava cadeia, de um modo nada compatível com as recomendações para condições prisionais da Amnistia Internacional. mas sempre como "non conforming"

Entretanto, a palavra começou a significar cada vez mais bicha, e a certa altura, não universalmente, bicha efeminada.

A palavra
Queer começa a dar confusão, ultimamente, porque nos últimos anos começou a recuperar o seu sentido original numas cenas e grupos, e a manter o significado antigo noutros.

Queer é uma palavra muito útil para separar (tomemos como exemplo) gays em geral, dos gays não normativos (não gosto da palavra alternativo porque perdeu todo o significado). Para quem não percebeu, há gays/fufas/trans*/bis/etc de pantufas, que são tão burgueses como a maior parte dos heteros, e aqui quando digo burgueses, refiro-me a sistema de valores e empenhamento social e interventivo e não a modo de vida ou a terem a possibilidade financeira de comerem três refeições por dia. E provavelmente há heteros que podem se identificar como queer, a partir do momento que há toda uma reflexão e escolha consciente que transcende a actual orientação sexual.

Por outro lado, ou talvez antes, no seguimento do anterior em contexto identidade de género, a palavra
queer tem sido reclamada no sentido trans*, de individuo que decidiu conscientemente a sua identidade género, e que conscientemente não se guiou necessariamente pela cartilha bipolar.

(...)


Queer começa a sugerir uma tentativa, ou antes, uma preocupação genuína, em aplicar valores não normativos (e começam a sair da cartola o feminismo, o anti-racismo, etc) de modo concreto na vida e reflexão quotidiana. Não implica necessariamente actividade política, mas implica uma preocupação politica, implica reflexão e auto-crítica. Nao quer dizer isto que seja esperado um activismo constante em todos aqueles campos, mas implica certamente não fechar os olhos quando há contradições gritantes com algum daqueles princípios, quer a nível de comportamento do grupo, quer a nível da interacção entre os indivíduos que neles se movem. E isso vê-se pouco ou nada em grupos poly ou gay ou lésbico que não sao queer, e é precisamente aí que a diferença mora. Relembro-vos a recente discussão a propósito da Judith Butler e a marcha do orgulho LGBT em Berlim.

Espero que tenha ajudado, correcções e comentários bem-vindos! Não espero que este texto seja consensual.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010



Aqui vai o cartaz a pedir voluntários para a equipa de educação de rua que irá ser formada pelo projecto Dar Voz aos Trabalhadores Sexuais.

Caso o queiram afixar em algum sítio, estejam à vontade.
Por favor reencaminhem e divulguem!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Mononormatividade

Isto é um extracto, adaptado, de algo que escrevi especificamente para o Polyportugal, e para o Our Laundry List (meu blog pessoal sobre principalmente poliamor).

Uma palavra muito importante nas lides activistas LGBT (ou quaisquer outras pelos direitos humanos, na verdade) é mononormatividade. (a palavra foi inventada primeiro como slang, e pegou como "exagero" ou superlativo de "normativo").

Descreve, a maioria dos mecanismos que fazem com que nos comportemos de maneira pré formatada... é a pressão social que nos diz que ser gay ou não-monogâmico é errado, é a pressão que faz com que não vamos trabalhar de calções, mesmo que isso não afecte a nossa competência, ou não dizer ao chefe que não somos do Benfica, é tudo o que nos impele para um sentimento de minoria que se livraria de sarilhos se passasse a ser maioria, ou que, no caso de não impelir, nos tornam eventualmente alvos de discriminação (não se pode mudar a raça, a nacionalidade, a idade, por exemplo..).

Reparem que, atabalhoada como poderá ser a minha explicação, mononormatividade não é a mesma coisa que discriminação, embora mononormatividade quase sempre seja discriminatória..

Mononormatividade é um tema muito vasto e hoje quero deixar-vos apenas os acepipes como entrada, e mais para a frente e conforme o vosso interesse podemos pegar ou aprofundar outros aspectos.. Os exemplos que vos deixo são mais ou menos poly-relevantes pois é a realidade onde levo mais porrada e que conheço melhor. Deixo vos o trabalho de casa de procurar exemplos noutros campos... Mas os exemplos acima, em que um trabalhador não revela a sua orientação sexual minoritária no trabalho (de todo, ou antes de mostrar que é mais competente que os outros), ou que um estrangeiro nem tenta procurar apartamentos em certos bairros mais privilegiados, ou que um vegetariano já nem vai a certos jantares para não ouvir certos comentários, ou que uma mulher já nem tenta explicar porque certas anedotas são ofensivas, são um bom principio.

Indo então para os direitos sexuais, temas caros a este blog e a mim, gostava de vos chamar a atenção para um dado interessante e que é um bom ponto de partida, é que mesmo pessoas que não contestem a monogamia ou o modelo heterossexual, mas que não encaixam no modelo do casal monogâmico, são encaradas com desconfiança. As constituições dos países ocidentais, teem, desde há relativamente pouco tempo (80 anos), explicitamente passado a mensagem que a base da sociedade é a família e não mais o individuo (Comparem as primeiras constituições europeias de há +180 anos com as de agora, e vejam toda a celeuma à volta dos casamentos para pares do mesmo género, explicados como direitos, mas que no fundo promovem privilégios aos indivíduos que escolhem casarem-se em detrimento ao individuo que o não faz).


Pessoas que vivem sozinhas, e que até sejam felizes (Quirky Alone), são vistas como doentes ou uma excepção à utopia da felicidade universal, ou mesmo um perigo para a sociedade. Mecanismos como o swing ou a neo-monogamia, com tudo o que teem de libertário, começam a ser bem vistos apenas desde que não haja envolvimento emocional e o casalinho original se mantenha intacto. Criticas, construtivas ou não, feitas ao casamento tal como ele é, são anátema para muitos políticos (por ex: Deputada critica casamento) que preferem nem se meter nisso. Evidência histórica que o casamento já foi uma instituição diferente, ou que houve outros contractos sociais paralelos (ver Affrérements ou casamentos entre homens na península ibérica até ao séc. XI) com diferentes papeis, e diferentes expectativas, é sistematicamente esquecido... Algo que cheire a "promiscuidade" é sempre o culpado dos tremores de terra, epidemias, e um par de botas, em vez de se procurar as verdadeiras causas e actuar sobre elas... Mas pular a cerca nunca será uma causa de tremores de terra, porque não conta como promiscuidade, não ameaça o par original..


Entendo que ninguém, nem Estado nem vizinhança, tem o direito ou sequer o capricho de interferir no que dois (ou três, ou vinte) adultos consentâneo fazem uns com os outros, por uma noite ou por uma vida inteira. Isto é válido no que diz respeito à monogamia, à orientação ou desorientação sexual ou de género ou mesmo ao cheiro do aftershave (*). isto são discriminações mononormativas. Por outro lado, é contra os pilares de uma sociedade que se diz livre, inclusiva e diversa, que tal interferência, por Estado ou vizinhança ou empregador aconteça.


Ficou claro?


é por isso que aqui estamos..


obrigada por lerem, e agradeço os vossos comentários e perguntas.


(*) convido para um mojito quem me disser quem é que foi o artista que foi discriminado, alegadamente, por causa do aftershave que usava.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Alguns pontos a reter da Declaração dos Direitos Humanos

Artigo 1°

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Artigo 2°

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação.

Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.

Artigo 3°

Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 7°

Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo 8°

Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei.


Artigo 9°

Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 19°

Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão.

Artigo 22°

Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país.

Artigo 28°

Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração.

Artigo 29°
O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade.
No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática.
Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas.
Artigo 30°

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

Quando é que esta declaração será aplicada em Portugal às pessoas Transexuais, aos membr@s da “comunidade” LGBT? A tod@s @s cidad@s(ãos)? Depende de nós!

Fonte: http://www.unhchr.ch/udhr/lang/por.htm


ASSASSINATO DE GISBERTA DO CRIME, DO ÓDIO, DO BRANQUEAMENTO EM CURSO, DA NOSSA CÓLERA!

Lançada ainda viva ao fosso. Vítima não apenas de agressão, mas também de sevícias sexuais, indica a autópsia. A cada dia que passa, aumenta o horror dos pormenores sobre o assassinato de Gisberta, mas também a nossa indignação com a forma como o caso tem vindo a ser noticiado, comentado, ou mesmo "branqueado".

"Como foi possível?", pergunta a capa do jornal Público de ontem. Mas a pergunta a fazer é "como foi possível que ainda não tivesse acontecido?" Ou não sabemos o país que pisamos? Ou não conhecemos a realidade de um sistema de protecção de menores que mais não é que a continuação do abandono e dos maus tratos? Ou não sabemos da violência da exclusão social entre nós, e das políticas que a promovem? Ou não sabemos da discriminação que sofrem os sem-abrigo, os seropositivos, @s prostitut@s, @s homossexuais e particularmente @s trans, que até na comunidade gay são fortissimamente discriminad@s?

É chocante que o jornal Público utilize os termos "acção mais inconsciente que premeditada". Assumamos que não houve intenção de matar: o que há de inconsciente e não premeditado no insulto transfóbico e na agressão continuadas, no levar progressivo da violência à sua forma mais extrema, na prática de tortura e sevícias sexuais sobre uma pessoa que não tinha hipóteses de defesa ?

É vergonhoso e tristemente revelador que tendo o movimento LGBT organizado mais de uma década de história em Portugal, a comunicação social não saiba ainda a diferença entre uma transexual e um travesti , ou entre homofobia e transfobia, orientação sexual e identidade de género, mesmo sabendo que num primeiro momento de reacção ao crime, as próprias associações gays e lésbicas (mais uma vez por falta de comunicação com a única associação trans existente em Portugal) contribuíram para estas duas últimas confusões. Os jornalistas deviam questionar seriamente a sua consciência profissional, os seus próprios preconceitos, a abordagem mediática à questão dos direitos LGBT, com particular incidência sobre a população trans, a mais vilipendiada, gozada, usada, discriminada, desfavorecida, desprotegida e incompreendida no universo mediático, na sociedade e mesmo na envergonhada e preconceituosa comunidade gay, que, dizemos há muito, também deve pôr a mão na consciência, porque também é culpada pela exclusão e abandono da população trans, e reproduz por vezes ao quadrado o preconceito, a ignorância e a perversidade de uma sociedade assente na hipocrisia e na violência sexista e heterossexista.

Muitos órgãos de comunicação social optaram por se referir apenas a uma pessoa "sem-abrigo". Em circunstâncias normais, até poderia ser bom que uma pessoa fosse descrita exactamente como "pessoa" pela imprensa sem recurso a características que são alvo de discriminação social - Transexual, sem-abrigo, seropositiva, prostituta. Mas cada vez fica mais claro o papel que (certamente também) tiveram o preconceito e a discriminação neste crime, e mesmo se assim não fosse, o preconceito já expresso por muitos comentadores na reacção ao crime exigiriam que disto se falasse.

Não cabe aos jornalistas - nem a ninguém - decidir se foi a característica "sem-abrigo" a que pesou mais nas motivações para o acto, ou qualquer outra. Infelizmente, coube ao preconceito. Gisberta acumulava exclusões, nenhuma delas pode ser omitida. Transexual que era, e vítima da transfobia à portuguesa. Muito mais do que enumerá-las todas (como temos feito), omitir essa característica é esconder (mais do que) prováveis motivações e querer atribuir ao crime, sem informação que o sustente, uma ou outra motivação particular. Com o que se sabe, só há duas atitudes correctas: ou evitar referir motivações e esperar por mais informação, ou, como fizemos, considerar o conjunto das possíveis motivações. Tudo o resto é, mesmo que não queira sê-lo, manipulação grosseira e reforço da discriminação.

É criminoso que o padre Lino Maia, presidente da União das Instituições Particulares de Solidariedade Social e também director da Pastoral Social e Caritativa da Diocese do Porto, tenha insinuado na quinta-feira que a vítima andaria a "molestar" os jovens, para ontem surgir na RTP com uma nova versão, diferente e ainda pior, sustentando que os rapazes teriam "circunstâncias atenuantes" porque um outro rapaz da instituição andaria a ser assediado por um pedófilo (que não - obviamente - a vítima). Até perante a morte de uma pessoa, os responsáveis da Igreja continuam a lavar as mãos de responsabilidades sobre o preconceito e a tentar fugir com o rabo à seringa através da associação abusiva entre abuso de menores e a população LGBT. Desespero, de alguém que não percebe que com tais declarações reforça a convicção da motivação discriminatória deste crime?


É normal que a colunista Helena Matos se exprima hoje no Público com um artigo que parece ter por único objectivo negar - sem bases - qualquer componente relacionada com "orientação sexual" (e não identidade de género, mais uma vez a ignorância de quem se recusa a informa-se convenientemente e fala do que não conhece) neste crime. Claro que o facto de a vítima ter sido alvo de uma particular forma de tortura, a inserção de objectos no seu anús, é para ignorar. Helena Matos fala das "nossas culpas". Ainda bem que assume, pela primeira vez, a sua homofobia, que normalmente esconde sob uma capa de absoluta tolerância. Mas nunca nos enganou, e há muito que é uma das porta-vozes do preconceito encapotado. Assuma a sua má consciência quanto ao preconceito, mas não nos englobe, porque há quem faça de combatê-lo a sua vida.

É escandaloso que nem um partido ou responsável político - além do vago e cauteloso "choque" do ministro da Solidariedade e Segurança Social - se tenha pronunciado ainda sobre o caso , mesmo com o argumento que parece adivinhar-se (e já se ouve) de que não será evidente falar-se num "crime de ódio" quando os presumíveis - pelos vistos confessos - agressores são menores.

A questão, senhores, não está em criminalizar "crianças" de menor idade, como têm defendido comentadores e meios que por acaso costumam ser a voz da preconceito anti-lgbt nos nossos media. O estado que assuma as responsabilidades que nunca assumiu sobre as que são "crianças". Que puna judicialmente quem tem idade para ser responsabilizado criminalmente. Mas que não se confundam "crianças" com "jovens", e que, não esquecendo a idade dramática de parte do grupo, não se desculpabilize o crime e o preconceito em si. Porque os sentimentos que geram o ódio, esses são da responsabilidade dos adultos e de quem dirige o país.

Continuamos à espera de reacções e acções consequentes.

Não nos perguntaremos se as crianças são capazes de odiar. A sociedade portuguesa odeia, e é nela que as crianças crescem. Que não se esqueça que o ódio, especificamente a transfobia e o preconceito contra a população LGBT em geral são um problema social grave que perpassa todas as gerações e entre elas se reproduz. Que se reconheça que a questão só está e só pode estar nas medidas de combate e PREVENÇÃO das discriminações e desigualdades no seu conjunto, e, no caso da comunidade LGBT, no reconhecimento de direitos iguais e de legitimação social. Sim, desta vez, foram "jovens". Em todos os casos que têm consubstanciado um aumento das agressões transfóbicas e homofóbicas em Portugal nos últimos dois anos, não foram jovens os perpetradores, e a regra tem sido o silêncio e o esquecimento.

E da próxima? Esperaremos por um novo crime de ódio, cometido por adultos para tomar posição e agir? Para agravar (não em função da idade) os crimes e as discriminações por motivo da condição social, do estado de saúde ou da motivação transfóbica e homofóbica? Para implementar uma Educação Sexual nas escolas que combata os preconceitos? Para enfrentar de vez o inferno que é o sistema de protecção de menores? Para combater as exclusões com políticas de igualdade social? Se assim for, todas as lágrimas agora choradas são de crocodilo.

Continuamos à espera de reacções e medidas consequentes! E não admitiremos esse silêncio!


Trans no Parlamento

No segundo aniversário do assassinato de Gisberta, o Bloco de Esquerda promoveu uma audição na Assembleia da República sobre Transsexualidade. Presentes estiveram activistas das Panteras, Médicos Pela Escolha, Opus Gay e activistas trans independentes. O deputado Sosé Soeiro iniciou a reunião dando a palavra aos e às activistas trans presentes na sala e que referiram diversos casos de discriminação.
A dificuldade e morosidade para mudança de nome nos documentos de identificação e no registo, diagnósticos médicos demorados muito além do aceitável e a falta de uma lei que regule as questões de identidade de género foram, talvez, as questões principais referidas.
A intervenção das Panteras assim como a de uma activista trans francesa que comentou a situação dos trans em França e na Bélgica, despoletou a questão da patologização da transsexualidade e do diagnóstico psiquiátrico como elemento fundamental para as pessoas terem acesso ao processo de mudança de sexo. Debate acesso até pela presença de dois médicos da equipa do Hospital Santa Maria (nesta audição a convite da Opus) que defenderam a necessidade desse diagnóstico e a classificação de patologia para os e as trans. Por outro lado, algumas das activistas presentes, não aceitando a afirmação de que os trans são doentes mentais, reconhecem a necessidade deste diagnóstico médico até pela oportunidade de tratamento no serviço nacional de saúde que ele implica.

Como já sabemos, um debate urgente a ser travado e definidor para o futuro das pessoas transsexuais e trangéneros em Portugal. Para já, esta foi a primeira vez que trans entraram na Assembleia da República pela porta principal e de cara levantada. E não será a última!