sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Artigo adaptado do texto completo no "Queer, palavra viva, no Our Laundry List"

A palavra
queer apareceu como sinónimo de bicha, de gajo que não se encaixava na norma, no tempo em que ser bicha dava cadeia, de um modo nada compatível com as recomendações para condições prisionais da Amnistia Internacional. mas sempre como "non conforming"

Entretanto, a palavra começou a significar cada vez mais bicha, e a certa altura, não universalmente, bicha efeminada.

A palavra
Queer começa a dar confusão, ultimamente, porque nos últimos anos começou a recuperar o seu sentido original numas cenas e grupos, e a manter o significado antigo noutros.

Queer é uma palavra muito útil para separar (tomemos como exemplo) gays em geral, dos gays não normativos (não gosto da palavra alternativo porque perdeu todo o significado). Para quem não percebeu, há gays/fufas/trans*/bis/etc de pantufas, que são tão burgueses como a maior parte dos heteros, e aqui quando digo burgueses, refiro-me a sistema de valores e empenhamento social e interventivo e não a modo de vida ou a terem a possibilidade financeira de comerem três refeições por dia. E provavelmente há heteros que podem se identificar como queer, a partir do momento que há toda uma reflexão e escolha consciente que transcende a actual orientação sexual.

Por outro lado, ou talvez antes, no seguimento do anterior em contexto identidade de género, a palavra
queer tem sido reclamada no sentido trans*, de individuo que decidiu conscientemente a sua identidade género, e que conscientemente não se guiou necessariamente pela cartilha bipolar.

(...)


Queer começa a sugerir uma tentativa, ou antes, uma preocupação genuína, em aplicar valores não normativos (e começam a sair da cartola o feminismo, o anti-racismo, etc) de modo concreto na vida e reflexão quotidiana. Não implica necessariamente actividade política, mas implica uma preocupação politica, implica reflexão e auto-crítica. Nao quer dizer isto que seja esperado um activismo constante em todos aqueles campos, mas implica certamente não fechar os olhos quando há contradições gritantes com algum daqueles princípios, quer a nível de comportamento do grupo, quer a nível da interacção entre os indivíduos que neles se movem. E isso vê-se pouco ou nada em grupos poly ou gay ou lésbico que não sao queer, e é precisamente aí que a diferença mora. Relembro-vos a recente discussão a propósito da Judith Butler e a marcha do orgulho LGBT em Berlim.

Espero que tenha ajudado, correcções e comentários bem-vindos! Não espero que este texto seja consensual.

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